O Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo disse ontem, em palestra a empresários, que prefereria morrer a ter que passar anos em um presídio brasileiro. Ele classificou a situação dos nossos presídios como "desrespeitosa", "degradante" e "medieval", e afirmou que "não há nada mais degradante do que ser violado em seus direitos humanos". Peraí! E quem foi que disse que cadeia tem que ser confortável? Agora vai querer transformar presídio em hotel, Sr. Ministro? Eu simplesmente fico puto quando eu escuto, vejo ou leio algo parecido, sabe porquê? Vão lá meus motivos:
1- Porque um preso tem entre 5 e 7 refeições diárias (variando de um local para outro), enquanto crianças no ensino básico, em regiões pobres do país como o Vale do Jequitinhonha em MG, vão para a escola para receber sua única refeição diária.
2- Porque o Governo Federal gasta mais com presos do que com estudantes universitários. O gasto anual do governo com um preso é de aproximadamente 40 mil reais/ano, enquanto o gasto com um aluno de uma universidade federal é de cerca de 15 mil reais/ano. Isso dá, por mês, um gasto federal médio de mais de R$ 3.300 com um preso, que não foi parar na cadeia por estar rezando, e que não vai virar nada quando sair de lá, enquanto o gasto mensal com um estudante universitário, que pode vir a se tornar alguma coisa na vida um dia, gira em torno de R$ 1.250, ou seja, gasta-se quase 3 vezes mais com um vagabundo do que com um estudante!
3- Você sabe quanto ganha, em média, um agente de saúde no Brasil? Cerca de R$ 800,00. E você já parou pra pensar no trabalho que ele faz, visitando a população, monitorando as condições de saúde dessas pessoas, dando especial atenção à prevenção, tendo que lidar com todo tipo de gente (mais educada e menos educada), encarando um sol de rachar para cumprir as metas de visitação, estando exposto a toda sorte de doenças e agentes infecciosos. Pensou? Agora pensa no que faz um preso: o cara não trabalha, tem assitência médica e odontológica, tem segurança 24 horas, tem transporte gratuito e exclusivo com direito a colete à prova de balas e escolta armada, tem banho de sol diário, tem tempo de sobra para arquitetar seus planos mirabolantes de fuga ou para coordenar sequestros e assassinatos cometidos nas ruas de nossas cidades, tem acesso praticamente irrestrito a telefones celulares, tem visita íntima, tem infinitos indultos (Dia das Mães, Natal, Ano Novo, etc) e ainda tem direito à liberdade condicional e/ou redução da pena caso tenha "bom comportamento", isto por que é uma cadeia "degradante" e "medieval", imagina se fosse um hotel então. Pois bem, o agente de saúde em questão, assim como a maioria dos brasileiros, tem que pagar por seu plano de saúde e torcer para que a espera por uma consulta simples seja inferior a uma semana (mas ainda tá bom, porque se for pro SUS, vai ter que esperar 1 mês), além de não ter segurança garantida para exercer seu direito HUMANO e CONSTITUCIONAL de ir e vir e, muitas vezes não ter nem 3 refeições diárias, além de ter que acordar cedo para pegar um coletivo lotado para ir trabalhar, exposto ao risco de ser assaltado, sequestrado, estuprado ou morto por um bandido que, se for pego, coitadinho, vai ter seus direitos humanos violados!!! Ai que peninha!
Bom, motivos expostos, haverão aqueles que, como o Sr. Ministro, têm peninha de bandido, porque vivem no mundinho perfeito dos Telettubies. Eu só fico imaginando se essa peninha vai persistir caso seu filho seja assassinado covardemente depois de já ter se rendido e entregado tudo que lhe foi solicitado, ou se sua filha for estuprada por um desses coitadinhos "que não tiveram oportunidade na vida", e que por isso têm carta branca para sair por aí cometendo todo tipo de atrocidades.
A PAZ, assim como tudo na vida, tem um preço, e o preço da paz é alto, mas são pouquíssimos os que têm colhões para pagar tal preço. Colhões... termo antigo, declinado, isso deve se explicar talvez pelo fato de que, ter colhões, é algo que não se usa hoje em dia. O tempo da negociação, do acordo, da conversa fiada, já passou há muito. A sociedade, no estágio em que se encontra, precisa de mais ação, e ação contundente, e menos discurso. É preciso reverter a inversão que foi feita, e que fez com que os cidadãos de bem se trancassem atrás de grades de aço e cercas eletrificadas, enquanto os vagabundos ficam livres; que fez com os cidadãos de bem vivam com medo, à mercê dos delinquentes e, enfim, que fez com os cidadãos de bem tivessem "seus direitos humanos violados" e entregues de bandeja aos marginais.
Que os cidadãos de bem que chegaram até o fim desse artigo me desculpem pelo tom ríspido e, Sr. Ministro, vai te catar.
Rubens Carvalho Júnior