Festas de fim de ano, férias, família e amigos por perto e conversa, muita conversa. A pauta simplesmente não se esgota, e eu gosto muito. Mas aí surgem uns assuntos que, de certa forma, me deixam levemente perturbado. Foi aí que, especulando sobre coisas polêmicas, como a vida após a morte, percebi algo que eu não entendo.
Considere a possibilidade de que não exista nada além dessa vida. Qual seria sua postura? Abaixo, seguem respostas que eu ouvi sobre esse mérito, e que podem se encaixar em seu modo de pensar:
1) "Mas tem que ter alguma coisa além disso aqui."
2) "Se não tiver nada além dessa vida então eu vou parar de trabalhar e vou pra farra, aproveitar essa vida."
3) "Então pra quê ser uma pessoa correta e honesta, respeitar o próximo, praticar o bem?"
4) "Bobagem, não seria justo se não houvesse nada depois da morte."
5) "Se for assim, então essa vida não tem sentido!"
Pois é, se você acredita na vida eterna você pode ter se familiarizado com algum dos pensamentos acima. O que eu não entendo, então, é o seguinte:
1) Porque "tem que ter alguma coisa além disso aqui"? Não tem que ter nada. As pessoas é que querem que exista algo além para que possam continuar existindo. É inaceitável para a maioria das pessoas a ideia de finitude, eu sei, eu já pensei nisso também, mas o fato é que não há nada que me garanta que exista algo além, assim como não há nada que me garanta que não há, não é verdade? Então a melhor resposta, penso eu, seria: "Eu gostaria que existisse algo além".
2) Se você descobrisse que não há nada além, provavelmente você continuaria trabalhando sim, a menos, é claro, que você seja incrivelmente desprendido ou tenha tendências suicidas. Isso porque, numa sociedade capitalista, você precisa trabalhar pra ganhar dinheiro (bom, a maioria das pessoas precisa!), e ter assim meios de alimentar-se, vestir-se, locomover-se, morar, etc..., em suma, viver. Se você cair na gandaia e perder o emprego, não terá dinheiro para a farra, bem como para comida, roupas, combustível, aluguel, etc.... Daí, das duas uma: ou você vai viver dependendo de favores dos outros (tipo o Belchior), ou vai morrer de fome.
3) É inacreditável como as pessoas condicionam o agir ético e moral a uma recompensa depois da morte. Quer dizer que você só respeita as pessoas, e procura agir com correção porque acha que Deus está te olhando, como que num BigBrother celestial, e aí, quando morrer, você terá direito a um lugar no Céu. Não fosse por isso, as pessoas então passariam a matar, roubar, estuprar, já que não teria ninguém olhando, pelo menos não ninguém que tenha o poder de me julgar e condenar a arder no mármore do inferno. Eu devo agir corretamente com os outros porque eu apreciaria a contrapartida, isto é, eu não faço com os outros o que eu não gostaria que fizessem comigo, e não porque Deus está olhando, mas porque assim se vive melhor e em paz.
4) Quem disse que tem que ser justo!
5) É triste saber que uma pessoa dá sentido à sua vida baseada em algo que ela nem ter certeza de que exista. O sentido da minha vida quem dá sou eu e, particularmente, acredito que o que dá sentido à vida é procurar viver da melhor forma possível. Agir com a pessoas da forma como eu gostaria que agissem comigo, e se todos fizessem isso nós viveríamos muito melhor. Aproveitar bons momentos com bons amigos. Cercar-se de pessoas com quem tenha afinidade e repelir aquelas que, de alguma maneira, lhe façam mal. Ganhar dinheiro é importante também, não para simplesmente acumular bens - porque haja ou não algo além, você não os levará consigo - mas para poder viver confortavelmente, para alimentar-se bem, para cuidar da saúde, para poder viajar e conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes, sabores diferentes, e isso pode ser um antídoto contra o preconceito e o senso comum, além de agregar cultura, de verdade.
Eu não faço ideia do porquê de estarmos aqui. Há uma teoria amplamente aceita de que evoluímos, desde o coacervado até chegar a esse estágio atual, e continuamos evoluindo, de forma gradativa e imperceptível para nós mesmos, dado nosso curto tempo de vida. Há quem diga, por outro lado, que fomos criados por Deus, em sua infinita bondade. Seja como for, eu não sei de onde eu vim ou para onde vou (na verdade ninguém sabe, só supõe), então eu vivo minha vida como se fosse a única que eu tivesse, procurando viver bem, respeitando o espaço alheio e buscando sempre evoluir moralmente, não para ter benefícios numa suposta vida além túmulo, ou porque Deus está olhando, mas simplesmente porque, acredito eu, ser esse um bom jeito de viver.
Rubens Carvalho Júnior
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