É interessante ler as reações das pessoas quando se fala em nazismo e holocausto. Rapidamente surgem comentários sobre a crueldade do regime nazista, sobre as situações degradantes a que os judeus foram submetidos e, ainda, muitos "especialistas" em história germânica bradando que o nazismo poderia ter sido facilmente evitado. Enfim, as pessoas não entendem como o povo alemão deixou que a coisa chegasse ao ponto em que chegou, e a resposta é muito simples: é muito difícil enxergar a história acontecendo no momento em que ela acontece. Por exemplo, pouquíssimas pessoas já se deram conta de que há um genocídio em curso, e sendo amplamente noticiado. É, amigo(a), se você entende o conflito entre Israel e Gaza como uma mera querela político-religiosa, você não é nada mais que um alemão na década de 30, ou seja, você ainda não se deu conta do que está, de fato, acontecendo.
Numa guerra é normal que ocorram baixas civis, é um lamentável efeito colateral dos ataques. No entanto, quando se ataca de forma cirúrgica e recorrente lugares sabidamente repletos de civis, matando mulheres, crianças e homens desarmados, não se quer apenas subjugar o inimigo, mas sim destruir o povo. Me parece tão óbvio que eu não entendo quem não entende. Matando mulheres e, principalmente, crianças, você está comprometendo as próximas gerações, pois está matando os responsáveis pela continuidade de um povo, e Israel especializou-se nessa prática ao longo dos anos.
Antes de continuar quero deixar claro que não acho que exista um bandido e um mocinho nessa história, não intento defender esse ou aquele lado do conflito, só pretendo expressar um ponto de vista construindo pela observação dos fatos presentes e históricos.
É sabido que o Hamas utiliza instalações civis para abrigar armas e militantes, mas pensar que toda casa, escola e hospital palestinos são esconderijos de terroristas é errado e extremamente preconceituoso, e o que se tem visto todos os dias é Israel atacando áreas residenciais, escolas, hospitais, centros comerciais e o pior de tudo (como se fosse possível piorar), eles não poupam nem mesmo os campos de refugiados e as instalações da própria ONU que, por sua vez, nunca sai do campo do discurso.
Israel afirmar alertar a população palestina antecipadamente sobre os ataques. Segue-se que muitos saem de suas casas e vão para abrigos da ONU e campos de refugiados. Aí então, Israel ataca esses abrigos e aniquila os refugiados. E isso não vem de agora, os ataques de Israel tem sempre essa característica, morrem muito mais civis do que militares, e a contra-informação, amplamente vendida e facilmente comprada pelo senso comum, passa a ideia de que todos esses civis mortos estavam sendo usados como escudo humano pelo Hamas. O fato é que Israel descumpre acordos de paz, a ONU se omite, os palestinos se revoltam e atacam e, então, Israel contra-ataca da forma como já estamos acostumados a ver nos noticiários, um extermínio étnico em doses homeopáticas, para a opinião pública ocidental engolir sem se engasgar. Um modus operandi muito bem orquestrado como em 2000, quando Israel não diminuiu a ocupação militar de Gaza conforme acordado em armistício, causando a revolta que se desdobrou na Segunda Intifada. O saldo não foi diferente do que já temos nos acostumado a ver nestas últimas semanas, com milhares de civis mortos e, entre 2000 e 2004, quase 4 mil residências de palestinos expropriadas e demolidas.
Enfim, se por um lado os Palestinos se valeram do terrorismo para tornar conhecidas suas reivindicações, por outro eles foram absurdamente negligenciados quando da criação do Estado de Israel.
Nada disso, no entanto, justifica uma ofensiva covarde na qual quase 10% das vítimas são crianças.
Sendo assim, da próxima vez que quiser falar em holocausto ou genocídio, não recorra à história, mas sim ao presente, que é esfregado nas nossas caras todos os dias.
Rubens Carvalho Júnior
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